Editorial

A reação precisa ser efetiva

Ninguém que preze pela liberdade de expressão dentro de um regime democrático haverá de ser contrário à possibilidade de que cada cidadão possa se manifestar, exibir seus pontos de vista e cobrar aquilo que entende como justo e necessário. Afinal de contas, não fosse por conta de incontáveis protestos e demandas ao longo da história que vão de melhores condições de trabalho até o direito de se relacionar com quem bem entende, certamente a sociedade seria hoje bem diferente. E pior.

No entanto, esse entendimento tem sido criminosamente distorcido nos últimos anos por quem busca usá-lo justamente no sentido oposto ao espírito original. E não apenas agora. E não apenas no Brasil. Não é de hoje - nem daqui - que grupos tem se organizado no sentido de destruir a democracia paulatinamente, envenenando a conta-gotas este sistema político que dá à população a garantia de que todos são (ou devem ser) iguais e cujas decisões eleitorais da maioria devem ser respeitadas, sem que isso - obviamente - signifique a opressão e o silenciamento da minoria.

É sob este aspecto que soam absurdas e perigosas as recentes declarações do ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgadas pela imprensa após ter acesso aos áudios, de que haveria um “movimento muito forte nas casernas” e que nos próximos dias poderia ocorrer um “desenlace bastante forte na nação”. O ministro cita ainda o encaminhamento para “um conflito social na nação” e avalia, em tom conspirador, riscos para o país se “eles” tiverem quatro anos de governo.

Não é preciso grande esforço para entender a gravidade. Não só pelas declarações de Nardes, já bastante impactantes por se tratarem de agente público com a responsabilidade de um ministro do TCU que, ainda, se orgulha de ter participação no afastamento de uma presidente. O peso é ampliado porque, desde o resultado da recente eleição, dia após dia, manifestantes com intenções golpistas insistem em trancar rodovias - inclusive atentando contra patrimônios pessoais e públicos - e ocupar ruas em diferentes cidades pelo país cobrando intervenção militar e uma ruptura com a democracia. O que, sabe-se, viola a Lei Maior.

Não basta que os demais integrantes do TCU digam que é um “blefe” de Nardes. Não basta que a maioria da sociedade repudie ameaças antidemocráticas. É passada a hora de mais seriedade dos poderes e instituições na defesa da Constituição e dos direitos dos brasileiros. Que inclui se manifestar livremente, mas jamais tramar contra o Estado Democrático de Direito.​

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